sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

Pedaços de mim.

Quando eu era criança, tinha mania de consertar coisas.
Eu buscava coisas quebradas para consertar.
Saber que fui eu que consertei; só eu soubesse que tinha consertado deixava-me num sentimento que pequena eu não sabia muito bem explicar.
Então, hoje lembrei algumas coisas que a minha memória permitiu. Aquelas coisas que deixei funcional de novo, as que ficaram como novas, que só eu sabia que não eram.
Adulta não conserto mais brinquedos, apesar de alguns se denominarem assim; seja pelo que viveram, seja pelo que os fizeram viver.
Eu também parei de procurar, mas de alguma forma me encontram.
Pego, cacos e os colo, deixo da melhor maneira que podem ser depois de despedaçados.
E desculpe, não é presunção minha muito pelo contrário depois de crescida eu amaldiçoava coisas quebradas por que de alguma forma sempre parava em mim, e minha genteee, consertar machuca.
Sangra, fere, dói e perco pedaços de mim que já nem sei mais quais são. 
Quebrei a cabeça, a alma, a calma e coração. 
Deixo pedaços que eram importantes e que no meio da colagem que fiz passam impercetíveis, mas eu vejo-os  andando por aí.
Colei pedaços de mim sozinha, houve vezes que não tinha mais cola e às vezes ainda há. 
Eu também guardo pedacinhos que não são meus e não me cabem, ali numa caixinha, aqueles que também não cabiam mais em nenhum lugar, como que num altar de caquinhos que coleciono em segredo. (agora não mais)
Eu digo para mim: cuidado, eles ainda podem cortar! 
Espero, de verdade, que não se formem um mostro sombrio, que me assusta e corre em busca de mais pedaços sombrios por aí… ou queira mais pedaços de mim…
Eu comecei a rezar por pessoas inteiras, com olhos fechados e com nó na garganta que não sei exatamente se era de ódio ou de dor.
Até que (percebi), que eu também não era mais inteira e todos sabemos, depois de quebrados já não somos mais os mesmos.
Ainda que, sejamos versões melhores algo se perdeu.
Algo se ganhou.
Pedaços de você,